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guia prático do trabalhador português (versão 2019)

Estou dentro daquela nuvem do paracetamol, a sair da constipação anual. Veio cedo, porreiro, fica resolvido. Pus-me a pensar neste arranque de ano, tão bestial, cheio de dias luminosos, e amor, mais o sorriso dos amigos e a antecipação de viagens e projectos.

Entretanto, trabalha-se. No meu caso, num artigo sobre os modos de trabalhar nas artes, há-de aparecer por aí em breve e prometo que vai incomodar um bocadinho, e nas entrevistas para o livro dos produtores, uma série de retratos sobre estas atarefadas e invisíveis criaturas. (De vez em quando faço intervalos para passar a ferro, que é uma gigantesca perda de tempo, mas a minha educação pequeno-burguesa impede-me de encarar a vida com vincos.)

Sou da geração que tem imensos ‘projectos’, que é a linguagem que adoptámos para não se notar muito que não temos futuro, só ‘presente expandido’, como diria o André Barata. “E se parássemos de sobreviver? Pequeno livro para pensar e agir contra a ditadura do tempo” é um livrinho recente dele, muito recomendável para começar o ano. Chega de artigos sobre o burnout, o uber-work, os benefícios da meditação e do pão de fermentação natural. Não há atalhos: ou estamos disponíveis para oferecer resistência ao híper-produtivismo, ou não estamos. Aviso que tem consequências: menos likes, menos oportunidades, menos beijinhos.

*A fotografia foi tirada na exposição ‘Editor de Vanguardas: Fernando Ribeiro de Mello e a Afrodite’, visitável até ao fim do mês de Janeiro na Biblioteca Pública Municipal do Porto, ao Jardim de São Lázaro. Uma pequena delícia.

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