Três meses sem escrever explicam muita coisa, e resultam nalguma desorientação (e almoços adiados). Penso melhor quando escrevo, ou seja, vivo melhor quando escrevo. Nisso não sou snobe, qualquer pedaço de escrita me serve: ensaios, emails longos (são cartas), textos científicos, postas no blog, até redacções para candidaturas. Nos últimos tempos, por conta de afazeres vários, não consegui atirar-me a nenhum, pelo que já estou levemente irritada. Faz-me falta, apesar de saber que a escrita é uma espécie de batota, fingimento de uma certa organização das coisas. Escrever é arrumar a cabeça, encontrar um lugar de onde ver o mundo, e um método para participar nele. (É tudo falso, claro. Nem o mundo se deixa organizar, nem as palavras têm tanto poder – pelo menos não as minhas.)
Portanto, não tenho escrito. Em compensação, tenho conversado. São conversas diferentes estas, as que acontecem em público, na internet. Devem faltar aqui aspas: a internet não é um sítio, o público não franze a testa, nem se mexe na cadeira, nem tosse. E acontece tudo num tempo curto e pré-definido, o que – convenhamos – também é uma mutilação valente da prática da tagarelice. Não sei se partilhá-las aqui não é idiota, porque também isso me parece estranho: que uma conversa dure, possa ser revisitada, sobreviva àquele dia, contexto, companhia, humor. Mas dado que não tenho textos novos, farei batota e deixarei aqui em baixo as ligações para alguns desses episódios. Entretenham-se: Stevenson diz que a conversa é “uma forma heróica da bisbilhotice”.